O Rails é lindo!
O uso de plug-ins faz o desenvolvimento no Ruby on Rails ser tão fácil quanto a montagem de casinhas de LEGO, e os seguidores da plataforma são fanáticos que não se cansam de contar vantagem. Basicamente, essas são as duas únicas críticas de quem ainda não se rendeu às facilidades do framework criado pelo dinamarquês David Heinemeier Hansson, de 29 anos. Fenômeno de popularidade, o Rails vem ganhando espaço no campo em que o PHP, o Python e o Java reinavam absolutos por anos. Para Hansson, a explicação para essa popularidade, como você confere a seguir, é a beleza da linguagem Ruby e a filosofia de desenvolvimento do framework, que privilegia a criação rápida de aplicativos antenados com a web 2.0.
<INFO> Você começou programando em Java e PHP. Por que desistiu dessas linguagens e partiu para o Ruby?
<Hansson> Eu usava muito PHP e às vezes Java, mas nenhum dos dois ambientes realmente se encaixou na minha mente. Havia sempre alguma coisa irritante, algo que não estava certo. Achava inconveniente usar essas plataformas. É difícil especifi car quais funções fazem mais diferença, mas, no geral, o Ruby me permitiu escrever os códigos mais belos que eu já programei. Só essa razão é suficiente para mim.
<INFO> Você diz que o Rails proporciona um desenvolvimento rápido e limpo. Quer dizer que existem linguagens sujas?
<Hansson> O termo sujo significa que o código que você escreve não parece puro, elegante ou bonito. Normalmente isso também quer dizer que o programador sabe o que fez e sabe que um dia vai precisar voltar e arrumar as coisas. Mas é muito raro que esse dia realmente chegue, uma vez que você vai ser obrigado a corrigir coisas erradas que deixou para trás o tempo todo. Para mim, o PHP pode ser considerado rápido e sujo. É bem rápido fazer alguma coisa e colocá-la para funcionar e também é fácil fazer muita bagunça no meio do caminho.
<INFO> Como você compara o Ruby e o Python?
<Hansson> São linguagens similares em vários aspectos. Conheço um monte de programadores de Python e os considero de alto nível. O Ruby e o Python, no entanto, também têm suas diferenças fundamentais. Como um exemplo simples, uma das minhas partes preferidas sobre o Ruby é a habilidade de estender classes com novas funcionalidades. Isso quer dizer que você não vai precisar esperar por aquele longo processo de ter novas idéias e conceitos no centro da linguagem. Você pode fazer as coisas do seu jeito e evoluir por conta própria. Eles simplesmente não têm isso no Python. No Rails, nós basicamente criamos uma versão revisada do core do Ruby com a extensão Active Support, que embeleza a linguagem com todas as coisas que nós pensamos que ela deveria ter.
<INFO> O Ruby pode ser o sucessor do Java?
<Hansson> Na verdade, não. O Ruby fala com o coração dos programadores. O Java fala com a mente dos gerentes. Muita gente está trocando o Java pelo Ruby não porque o Ruby é melhor do que o Java. A razão é que o Ruby é uma coisa totalmente diferente.
<INFO> O Ruby começou no Japão. Isso é um obstáculo para o crescimento da linguagem? A documentação é mais escassa por causa disso, por exemplo?
<Hansson> Isso provavelmente foi uma realidade até um certo ponto, antes do lançamento do livro da picareta, em 2001 (“Programming Ruby: The Pragmatic Programmer’s Guide”, que ficou famoso por trazer o desenho da picareta na capa). Desde então, tivemos grande fartura na documentação disponível em inglês. Só para o Ruby on Rails já existem dúzias de livros, e não escritos apenas em inglês.
<INFO> Como foi trabalhar com o Matz (Yukihiro Matsumoto, o criador do Ruby)? Os desenvolvedores japoneses são diferentes dos outros?
<Hansson> Estive no Japão em 2006, para participar da RubyKaigi. Foi uma experiência divertida conhecer vários desenvolvedores japoneses. Já tínhamos alguns caras de lá nos ajudando com o Ruby on Rails, mas é verdade que eles têm uma conexão menor do que o ideal conosco por causa da barreira do idioma.
<INFO> Você é dinamarquês e foi para os Estados Unidos. O mercado para desenvolvedores web é muito centralizado?
<Hansson> Absolutamente não. Você pode realizar um grande trabalho onde quer que você esteja. Eu criei o Basecamp e o Ruby on Rails enquanto eu estava na Dinamarca. Porém, nunca é fácil trabalhar remotamente nem colaborar direto de outro país. Certamente é verdade que os Estados Unidos têm o maior volume de inteligência para o desenvolvimento na web. Talvez por isso tanta gente que realizou algo importante se muda para cá. Citando apenas a Dinamarca, posso falar de nomes como Rasmus Lerdorf (criador do PHP) e Anders Hejlsberg (autoridade em C#). Enfi m, mesmo com vários problemas, os Estados Unidos são um lugar incrível para que você faça as coisas acontecerem.
<INFO> Certa vez, Zed Shaw do projeto Mongrel (um servidor para Ruby) disse que a comunidade do Ruby on Rails é um gueto. Qual sua resposta para isso?
<Hansson> Desejo que o Zed fique bem, seja lá o que ele for fazer. Me sinto mal por ele. Não deve ser divertido andar por aí com tanta raiva não resolvida. Pensava que eu o conhecia melhor, mas fiquei muito decepcionado com ele e com o artigo em que diz isso.
<INFO> Você pode descrever a 37signals antes e depois do sucesso do Ruby on Rails?
<Hansson> Nossa empresa certamente se beneficiou desse fenômeno, ganhando exposição dentro da comunidade de programadores. Mas, ao mesmo tempo, a maioria de nossos clientes não é formada por programadores. Eles nem mesmo lêem blogs ou acompanham a cena tech. Por isso, esse sucesso tem sido um fator positivo, mas acredito que nós estaríamos muito bem do mesmo jeito se o Rails não tivesse dado tão certo.
<INFO> Durante o período em que o Twitter passou por problemas, chegaram a culpar o uso do Ruby on Rails pelas falhas. Isso faz sentido?
<Hansson> O site deles tinha uma arquitetura e uma configuração que não combinavam com sua escala. Isso tem muito pouco, se é que tem a ver, com a escolha deles por um framework ou uma linguagem específica. Parece que eles resolveram tudo agora. E eu realmente amo o Twitter, é uma grande idéia.
Juliano Barreto, da INFO
http://info.abril.com.br/professional/desenvolvimento/o-rails-e-lindo.shtml